Para a Mostarda di Cremona que eu preparei no Natal, comprei frutas glaçadas a mais (para variar), e elas estavam perdidas na gaveta da geladeira desde então. Como não sou muito fã deste tipo de doce, resolvi fazer algo com elas, e pensei em uma rosca, que meu namorado ama. Eu poderia picar as frutas em pedaços pequenos e utilizá-las como as frutinhas cristalizadas que a gente encontra em supermercados. Além de me livrar também de um resto de passas, que sobraram do Chutney de Abacaxi.
Infelizmente não tenho nenhum livro específico de panificação, e por isso tive de recorrer ao livro que eu menos gosto da minha coleção, aquele da Dona Benta - Comer bem. Eu me explico: Comprei esse livro em uma liquidação on line, há uns 2 anos atrás. Como é bem conhecido e antigo, achei que seria uma ótima referência para receitas básicas e tradicionais. Ledo engano. Fiquei super decepcionada quando chegou, muitas receitas são repetitivas, várias das medidas informadas são vagas ou inexistentes, e o modo de fazer é o pior de tudo, resumido demais, pula etapas, uma desgraça...
O capítulo das roscas não foi diferente... Das 6 receitas, 3 eram com frutas cristalizadas, mais uma rosca comum, uma com canela e uma frita (que para mim não é rosca). Nada com coco, nozes, goiabada, nenhuma receita daquelas roscas bem molhadinhas, enfim... Mas para o meu objetivo do dia, que era uma rosca com frutas cristalizadas, eu estava com sorte. Das três, uma levava ovos demais (7!), a outra levava açúcar demais e frutas de menos, e a terceira necessitava uma menor quantidade de ovos, açúcar e farinha. Como raramente faço pão, optei por essa massa, para não desperdiçar muita coisa, caso tudo desse errado. :(
Precisei fazer algumas adaptações, adivinhar algumas medidas (a receita não informava a quantidade de frutas e passas, por isso usei tudo o que tinha em casa) e aumentar a quantidade de farinha. Mesmo colocando mais 2 bons punhados extras de farinha, a massa grudou na minha mão de uma forma que era impossível de sovar, eu tentava tirar a bendita da bacia para sovar, mas a bacia vinha junto, de tão grudenta que ficou... A essas alturas eu já tinha xingado todo o pessoal do Sítio do Pica Pau Amarelo até a décima geração, não queria colocar mais farinha para não deixar a massa pesada, e parecia que o destino daquela porcaria seria o lixo.
De repente, sei lá porquê, me lembrei de um vídeo que havia visto, há meses atrás, no site da Gourmet, com uma demonstração do Método Bertinet de sova para massas doces, feita pelo próprio Richard Bertinet (um chef e padeiro francês). Foi o que me salvou! Respirei fundo, peguei uma espátula e raspei toda aquela massaroca das minhas mãos e da bacia, coloquei na bancada e, com muita fé, foi sovando a massa da forma ensinada. Não é que depois de alguns minutos ela começou a tomar forma e se soltar das mãos?
No final deu tudo certo, e a rosca ficou muito saborosa! A casca ficou um pouco mais firme do que das roscas de padaria, e o interior ficou macio, doce na medida certa, e muito perfumado. Graças ao Bertinet, e não à Dona Benta, diga-se de passagem. Quem sabe se a autora fosse a Tia Nastácia o livro tinha salvação....
(adaptado do livro Dona Benta - Comer Bem)
- 1 xícara de leite morno, mais um pouco para pincelar
- 1/2 xícara de açúcar demerara
- 1 colher de chá de sal
- 2 ovos orgânicos ou caipiras
- 1 sachê de fermento biológico seco para pães
- 1/2 xícara de manteiga
- 500g de farinha de trigo, um pouco mais se precisar (acho que coloquei mais umas 50g pelo menos)
- 2 1/2 xícaras de frutas cristalizadas
- 1/2 xícara de passas
Antes de começar, você vai ao site da gourmet e assista ao tal vídeo do Bertinet, para aprender a sovar corretamente. Está em inglês, mas só de vê-lo fazendo dá para entender.
Misture em uma tigela a farinha e o fermento. Dissolva o açúcar e a manteiga no leite morno e junte à farinha. Misture com uma colher. Bata ligeiramente os ovos com o sal e junte aos demais ingredientes. Se estiver muito líquido coloque mais um pouco de farinha. Ainda assim vai ficar uma massa muito, muito grudenta. Daí você joga toda a massa na bancada (limpa, of course) e começa a sovar, com muita fé, porque vai dar certo.
Quando estiver no ponto certo (elástica, lisa, sem grudar), coloque em uma vasilha, tampe com um pano de prato e deixe repousar, em local quente e seco por 90 minutos. Dentro do forno desligado é o ideal. Se o dia estiver frio ou úmido, você pode ligar o forno rapidamente, por uns 15 segundos, desligar e colocar a massa dentro. Retire a massa do forno, acrescente as frutas, e torne a sovar ligeiramente. Você pode abrir a massa com um rolo, até ficar com mais ou menos 1cm de espessura, espalhar as frutas e enrolar ou modelar como quiser. Eu preferi misturar tudo e sovar mais um pouco, para depois moldar (como cresceu demais, dividi em 2 roscas).
Coloque em uma fôrma ligeiramente untada, cubra e leve ao forno novamente, deixando crescer por mais uma hora. Pincele o leite sobre as roscas (ou um ovo batido) e leve para assar em forno quente, pré-aquecido, até dourar. No meu caso levou uns 45 minutos, e eu girei a forma na metade do tempo.
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